As doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte no Brasil e no mundo, representando um desafio constante para médicos e demais profissionais da saúde. Nesse contexto, a atenção à prevenção primária — baseada em mudanças de estilo de vida e abordagens nutricionais — é essencial.
Um dos elementos com mais evidência nesse cuidado é o ácido eicosapentaenoico, mais conhecido como EPA, um tipo de ômega-3 com forte ação anti-inflamatória e protetora do sistema cardiovascular.
O EPA é um ácido graxo poli-insaturado da família ômega-3, presente em peixes de águas profundas. Ele tem ação reconhecida sobre a modulação inflamatória, redução de triglicerídeos, melhora da função endotelial e até estabilização de placas ateroscleróticas.
Esses efeitos se tornam ainda mais importantes quando lembramos que a inflamação crônica de baixo grau é um dos mecanismos centrais nas doenças cardiovasculares.
Em pacientes com dislipidemia, resistência à insulina ou síndrome metabólica, o ambiente inflamatório contribui para a disfunção endotelial e a formação de placas instáveis — eventos que podem culminar em infarto ou acidente vascular cerebral.
Diversos estudos clínicos ao longo das últimas décadas reforçaram os efeitos benéficos do EPA, sobretudo em indivíduos com risco cardiovascular aumentado.
O estudo REDUCE-IT (2018), por exemplo, demonstrou que a suplementação com EPA em doses terapêuticas promoveu uma redução de 25% nos eventos cardiovasculares maiores em pacientes com triglicerídeos elevados, mesmo sob uso de estatinas.
Outro ponto relevante é que o EPA, diferentemente de outros tipos de ômega-3, como o DHA, não está associado à elevação do LDL-colesterol — algo que pode ser preocupante em determinados perfis de pacientes. Isso o torna uma escolha estratégica, especialmente em pacientes com hipertrigliceridemia persistente.
O efeito do EPA não se limita à redução de triglicerídeos. Seu papel é multifatorial:
Esse conjunto de ações faz com que o EPA seja visto não apenas como suplemento, mas como um coadjuvante terapêutico de impacto clínico relevante, especialmente para pacientes com histórico ou risco aumentado de eventos cardiovasculares.
Apesar de o EPA estar presente em peixes gordurosos, como sardinha, salmão e cavala, a alimentação ocidental moderna costuma ter baixa ingestão desses alimentos, ao mesmo tempo em que é rica em ômega-6 pró-inflamatórios. Isso cria um desequilíbrio que favorece o ambiente inflamatório no organismo.
A suplementação com EPA pode ser indicada em diversos cenários:
É fundamental lembrar que a suplementação deve sempre ser orientada por um médico, com base em avaliação clínica e exames laboratoriais. A dose, o tempo de uso e a qualidade do suplemento são fatores determinantes para alcançar os benefícios esperados.
Embora o EPA tenha um perfil de segurança geralmente favorável, sua suplementação pode ser contraindicada em algumas situações:
Sempre consulte seu médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação.
A eficácia da suplementação depende diretamente da pureza, concentração e forma química do EPA. Muitos produtos no mercado contêm baixos níveis de EPA ou estão misturados com outras gorduras, o que compromete sua ação terapêutica.
Além disso, a oxidação do óleo pode ser um problema em suplementos de baixa qualidade, prejudicando tanto a eficácia quanto a segurança. Por isso, é essencial que o profissional da saúde indique produtos com certificação de qualidade, livres de metais pesados e contaminantes, e com alta concentração de EPA por cápsula.
Em contextos onde há necessidade de uma fonte confiável de EPA puro, o apoio de um suplemento para o coração pode fazer parte de uma estratégia clínica baseada em evidências, contribuindo para a saúde vascular com segurança e eficácia.
A saúde cardiovascular envolve múltiplos fatores, e o EPA se destaca como um recurso seguro, acessível e cientificamente validado na prevenção e cuidado contínuo com o coração. Seu uso deve ser sempre fundamentado em critérios clínicos, dentro de uma abordagem integrativa que envolva alimentação equilibrada, controle do estresse, prática de atividade física e, quando necessário, suporte farmacológico e nutricional.
Para médicos, nutricionistas e farmacêuticos, compreender o potencial terapêutico do EPA é um diferencial na conduta preventiva. Em uma era marcada pelo aumento dos fatores de risco cardiometabólicos, atuar precocemente pode fazer toda a diferença na trajetória clínica do paciente.
Referências:
REDUCE-IT INVESTIGATORS. Cardiovascular Risk Reduction with Icosapent Ethyl for Hypertriglyceridemia. The New England Journal of Medicine, Boston, v. 380, n. 1, p. 11-22, 10 nov. 2018. DOI: 10.1056/NEJMoa1812792.
TOTH, Peter P.; CHAPMAN, M. John; PARHOFER, Klaus G.; NELSON, John R. Differentiating EPA from EPA/DHA in cardiovascular risk reduction. American Heart Journal Plus: Cardiology Research and Practice, [S.l.], v. 17, p. 100148, 2022. ISSN 2666-6022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ahjo.2022.100148.
MOREIRA, Humberto Graner. Redução do risco cardiovascular com E‑EPA no estudo REDUCE‑IT é ainda maior em pacientes pós‑ICP. Portal da Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, 18 nov. 2020. Atualizado em 21 dez. 2023. Disponível em: https://www.portal.cardiol.br/br/post/redu%c3%a7%c3%a3o-do-risco-cardiovascular-com-e-epa-no-estudo-reduce-it-%c3%a9-ainda-maior-em-pacientes-p%c3%b3s-icp.
SWANSON, Danielle; BLOCK, Robert; MOUSA, Shaker A. Ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA: benefícios para a saúde ao longo da vida. Advances in Nutrition, [S.l.], v. 3, n. 1, p. 1–7, jan. 2012. DOI: 10.3945/an.111.000893. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22332096/.