Ao chegarmos a uma cidade desconhecida, ainda que seja “pequena”, nos causa insegurança e nos deixa perdidos. Eu que o diga, devido ao meu péssimo sendo de localização geográfica. Caso estejamos somente a passeio, ou apenas de passagem não há o compromisso com endereço nenhum, porém quando há necessidade de alguma responsabilidade as coisas mudam de figura.
Desejaria eu estar livre nesse município intitulado grande Dourados, mas precisaria realizar uma prova na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Essa missão, pó si só já causa nervosismo e ansiedade, agora imagine numa cidade por mim desconhecida?
Por ser novo na cidade, não a conhecê-la e ser perdido geograficamente, torcia para ser o primeiro a realizar a bendita prova, assim retornaria ao meu destino à luz do dia com a calmaria de uma temperatura quente e um dia de céu azul e límpido.
Porém, às vezes parece que os infortúnios nunca vêm de forma isolada, pois após o sorteio que definiria a ordem para realização da prova, além de ser o último na classificação, São Pedro abriu as porteiras do céu. A escuridão do dia já derradeiro, apressou-se a chegar em companhia de sua irmã chuva e de suas prediletas rajadas de ventos e raios. A combinação seria perfeita para um repouso agradável e um ócio descompromissado, aos que pudessem.
Concluída a missão pedagógica, aquilo que eu temia havia acontecido acidentalmente: chuva descomunal, noite escura e um desconhecido na cidade grande. Uma trinca fabulosa para um conto tenebroso. Talvez nem necessitasse expressar aqui o que mais aconteceria comigo, caro leitor, mas por desencargo de consciência o explicito, me perdi, obviamente!
Sem apego aos apetrechos tecnológicos, que por sinal nem estavam funcionando de nervo, pergunto-me com devoção, como encontrar alguém que pudesse me ajudar na Grande Dourados? Desesperado, recorri ao tradicional; por obséquio, o senhor poderia me informar como faço para ir até...? Embaixo da terrível chuvarada avisto um senhor com chapéu de abas largas, uma mochila nas costas, andando calmamente, com a roupa encharcada de chuva e de chão. Paro o carro imediatamente e peço ajuda. Ele com simpatia e prestativo pergunta:
- Para onde o senhor vai?
- Para Amambai, digo prontamente.
- Vou exatamente para lá! Exclamou admirado!
- Entra aí...
Não acreditando muito na situação que parecia uma miragem especialmente naquela ocasião, aquele humilde e gentil douradense, antes de entrar no carro conta brevemente que justamente naquela sexta-feira chuvosa, com trânsito caótico havia estragado sua moto e estava a pé e sem saber como iria embora.
Durante o nosso trajeto, regado a muitas histórias, fiquei sabendo através desse querido douradense que a cidade de Dourados segundo os estudiosos, originou-se na primeira metade do séc.XIX, de onde formou o povoado de São João Batista de Dourados, nome dado pelo fato de ser próximo ao rio Dourado. Diante das belíssimas narrativas desse nobre senhor, durante a minha peregrinação, me vem uma auspiciosa curiosidade: de onde viria então o motivo da cidade ter o adjetivo de grande! Grande Dourados! Mesmo curioso, não ouso perguntar. O tempo passa...
Ao terminar nossa viagem missioneira, com um sorriso espontâneo e feliz, aquele senhor aperta minha mão, pede desculpas por ter molhado o carro com sua roupa que estava encharcada e diz de modo espirituoso:
-Deus o colocou em meu caminho porque eu precisava do senhor e o senhor precisa de mim! Sem palavras, com os olhos querendo lacrimejar, percebo que a minha curiosidade é sanada naquele momento. A Grande Dourados leva esse título não apenas pelo seu tamanho geográfico de município, como eu havia imaginado, mas também, e em especial, pelo tamanho do coração bondoso dos douradenses.
* Luciano de Oliveira. Professor, escritor e mágico. Formado em Pedagogia e Letras. Tem mestrado e doutorado em Educação. Membro efetivo da ALB (Academia de Letras do Brasil Seccional Dourados -MS).